Título: TEMPOS DE COVID: DESDE O MEU RINCÃO; VIDA, FAZENDA, ALDEIA, SAUDADE, TERRA, GALOS E QUINTAIS
Num dia eram os aldeões, foices e enxadas em punho, a caminho de suas lavouras.
No outro, eram anciões solitários a cismar, sem os filhos, morando longe, e sem
a companheira, que foi visitar o céu mais cedo.
Num dia, eram só crianças a caminho da escola.
No outro, eram crianças sem futuro, indo-se da terra natal.
Num dia, eram os velhos vertendo lágrimas de saudades.
No outro, era o sentimento de impotência e o conformismo pelo ocorrido.
Num dia eram só mães, dizendo aos filhos viajores um "até logo"!
No outro, são mães que estão sem saber o quê dizer.
Num dia, são pais que ficam tomando conta das terras.
No outro, cansam da espera; que não sabiam tão longa....
Num dia, chegavam aos cafezais às cinco horas da manhã.
No outro, já não haviam cafezais....
Num dia, eram só homens a regressar do trabalho à casa.
No outro, eram homens sem casa para regressar....
Num dia, eram só pais dando as mãos aos filhos para atravessarem
a longa estrada da vida.
No outro, são filhos que dixam os pais à margem da estrada, pois
os velhos já não conseguem acompanhar seus passos....
Num dia, chegou a pandemia: além dos sintomas, com ela chegou o
desemprego; e as esperanças e finanças definharam...
E, da noite para o dia escureceu! E a manhã ainda não rompeu; os
galos das fazendas e das aldeias ainda não teceram mais uma manhã.
E a humanidade está de olhos fechados.
- Ainda teremos tempo de salvar a todos; ou em parte?